Como pessoas imersas em tecnologia, que somos, não é incomum termos acesso a materiais que são copiados dos autores sem as devidas permissões. Obviamente que isso vai continar a acontecer e eu estou longe de querer me meter a dizer o que cada um deve ou não fazer da sua própria vida. Quero falar de um viés da moeda que poucos vêem; a sustentabildade de um sistema.

Provavelmente você deve ter visto sobre o Ciclo da Água na escola, algo como a imagem a seguir:

Ciclo da água

Contudo eu acredito que nos últimos anos você deve ter passado por problemas de falta de abastecimento de água na sua cidade ou região, ou, pelo menos escutado falar sobre o assunto. Não sei como eles ensinam isso na escola atualmente, mas na minha visão essa é uma história com uma possibilidade enorme de ter furos. O ciclo não será sustentável assim que as cidades consumirem mais rápido do que a natureza é capaz de repor.

Voltemos para o mundo da tecnologia, então. Temos conteúdos que são publicadas por hobistas (pessoas que produzem materiais nas horas vagas) sem que essa prática seja seu ganha pão e temos editoras, autores, empresas, todo um ecossistema que vive dessa produção de materiais. A equação é simples: se as pessoas que vivem exclusivamente disso não tiverem mais como se sustentar elas vão procurar um novo meio. Não sei afirmar qual conteúdo é melhor que outro, mas existe uma tendência natural a avaliar os profissionais de uma área como uma fonte mais confiável do que quem faz algo por prazer. Nem sempre se confirma, mas é quase um senso comum.

É claro que o mercado se ajeita. O mundo da música já deu uma prévia como isso pode transcorrer; temos visto músicas ficando disponíveis de forma gratuita de forma a descobrir onde tem fãs (usando o destino do download) para modelar as turnês. Também há exemplos em outras áreas como os filmes que tem usado um investimento internacional no suporte às salas de cinema para ter retorno financeiro. Que dizer então dos streamers que fizeram com que a pirataria de músicas e filmes reduzisse drasticamente (eu assino feliz Netflix e Spotify).

Nos sites onde é possível fazer download dos materiais existe muita propaganda (provavelmente o negócio mais rentável do mundo, já que mantém Google e Facebook de pé, por exemplo), então não se engane achando que não há ninguém lucrando; o problema é justamente esse, lucrar sem esforço.

Vamos dizer que uma pessoa seja entusiasta do compartilhamento de informação e que acredite que todos devam ter acesso a tudo. Essa pessoa quase sempre se acha uma benfeitora, uma espécie de Robin Hood moderno. O perfil dessas pessoas é querer contribuir de verdade com o aprendizado das outras pessoas.

Note que o que estou fazendo não é uma crítica hipócrita nem algo do gênero, é um convite a reflexão: se todos resolvessem pegar o material de alguém sem pagar o que aquela pessoa espera receber o que acontece com sistema? Ele para; simples assim. Eu convido então a todos que querem contribuir com o compartilhamento de informações a pegarem o material que iriam compartilhar e escreverem ele. Pode ser uma cópia do que está lá, mas ao invés de digitalizar o livro, escrevê-lo; ao invés de enviar um torrent de um vídeo, gravá-lo; ao invés de pegar um artigo ou qualquer tutorial, simplesmente fazê-lo.

Se você quer mudar o mundo mude você, faça você, porque se todo mundo resolver mudar uma hora o mundo muda, do contrário a gente é apenas mais um dos que espera a mudança e contribui para a inércia.

Eu ouço muito frases como:

Ah, mas eu não tenho acesso, é caro! ou Nossa, mas é um roubo pagar por algo que tem de graça na internet…

E não discuto porque eu acho que as pessaos acreditam mesmo nisso e cada crença deve ser respeitada; no fundo no fundo é difícil achar a linha tênue que divide os limites de cada coisa e eu confio que você é o melhor juiz para isso.

P.S.: Antes que me xinguem de hipócrita ou qualquer coisa desse tipo aviso que eu vivo tentando seguir o mais próximo dessa linha, pago pelo que eu posso, e dou meu jeito pelo que não posso (como todo mundo), mas mantenho sempre vigilante na minha mente uma reflexão e gostaria de convidar a todos a ela: será mesmo que é assim que essa é a minha melhor escolha?


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